Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade. Vi tudo o que se faz debaixo do sol, e eis: tudo vaidade, e vento que passa. (Ecle 1, 2.14)
Ontem, enquanto eu lavava a louça, deixei a televisão ligada em um programa da tarde que já estava acabando, e o programa que vinha a seguir era bem interessante e queria assistir. A última matéria deste programa falava sobre próteses de silicone para o bumbum. A matéria começou falando sobre uma artista chamada "Walesca Popozuda" (acho que é assim que escreve). A tal cantora de funk pôs seu bumbum no seguro (é, aquele negócio que assegura nossos bens em caso de roubo, dano ou perda). Sabe quanto vale o bumbum dela? 5 MILHÕES de reais. Quanta coisa podemos fazer com este dinheiro? Quantas famílias podemos ajudar?
Na hora em que ouvi isso, parei de fazer tudo o que estava fazendo. A ficha ainda não tinha caído. 5 milhões? Bumbum no seguro? Mas... alguém roubaria uma bunda? Que dano o seguro cobriria? Celulite? Furúnculo? Não sei... não entendi nada, realmente. Então veio à minha cabeça esta reflexão. Que preço terá a nossa vaidade? 5 milhões? Vida eterna?
Eu trabalhei por dois anos em uma clínica de cirurgia plástica. Via mulheres que realmente precisavam da ajuda estética. Porém, havia outras que trocavam de prótese tal qual se troca de roupa. Ficava tentando imaginar porquê elas queriam tanto mudar, insistiam tanto em ficar diferentes. Será que toda essa insistência com a mudança externa era reflexo da necessida da mudança interna e da qual elas fugiam?
Os motivos que "obrigam" alguém a aderir a uma cirurgia tão séria como essa são vários. Há pessoas que recorrem às plásticas para levantar a autoestima. Eu mesma adoraria pôr silicone nos seios. Eles são minúsculos. Mas meu marido gosta e acha que assim está bom. Não vou mexer. Talvez, taaaaaaaaalvez, no futuro, quando eles sumirem de vez (já estou chegando nos trinta e tudo começa a cair nesta idade, bem como desejo ser mãe mais vezes, e aí é que eles somem mesmo) eu faça. Mas nada pra ficar alá atriz pornô. Algo discreto e que agrade meu esposo.
Uma mulher que faça algo assim, que seja discreto, que não deseje com isso alimentar a sexualidade de outros homens a não ser o seu marido, que não queira sair na rua com uma blusa cujo decote esteja no umbigo, que seja modesta, não faz mal. Porém, há mulheres que recorrem a estes métodos com objetivos negativos: pornografia, prostituição... entendem a diferença de uma coisa e outra? O mesmo quando se faz plástica de barriga. Há mulheres que não conseguem mais um abdômen "interessante" devido ao número de partos que fizeram. Se querem ajeitar a barriga para agradarem seus maridos - ou a si mesmas - e que esta "ajeitada" esteja em acordo com sua idade, não fazem mal. Agora, se seu objetivo é expor-se tal qual item em promoção no mercado, a coisa muda de figura.
Então, o que configura a vaidade? Excesso e intenção.
Eu gosto de pensar na vaidade como a uma linha. O que está sobre a linha é bom. Abaixo dela, mal. Logo, quando você pensa na sua saúde, tendo uma alimentação saudável, faz exercícios físicos, procura dormir o essencial; quando você cuida da sua pele com bloqueador solar para se previnir de doenças sérias, cuida das unhas e dos cabelos - no caso das mulheres, uma maquiagem suave e discreta -, você não está sendo vaidoso, e sim, cuidadoso, higiênico. Está sendo um administrador de um corpo que lhe foi emprestado. E digo mais: é um ato de caridade para quem lhe vê. Não é desagradável quando você vê alguém maltrapilho? Com um cheiro ruim? Roupas sujas? Que não tem educação pra comer? Por mais pobre que alguém seja, ninguém é convidado a ser descuidado consigo mesmo. E olha que conheço pessoas pobres, mas beeeeeeeeeeeeem pobres, e que são limpinhas!
Não há desculpa para sermos maltrapilhos, porque os cuidados importantes para a manutenção do nosso corpo são simples. Por mais que o mercado queira impor produtos com preços exorbitantes, isto tudo é fachada. Aqueles produtos que custam 90% a menos fazem o mesmo efeito. Cuidados simples nos deixam agradáveis, além de fazer com que as pessoas ao nosso redor se sintam bem. O que passa disso é excesso, é vaidade. Ou seja: quando os cuidados conosco já passaram do limite; quando fazemos do nosso corpo um ídolo a ser cultuado; quando entendemos que só seremos aceitos se formos bundudos, peitudos e branquinhos, então isso já se tornou um excesso, uma doença.
Falei também sobre a intenção. Às vezes nossa vaidade tem um intuito ruim. Coloca-se uma roupa assim ou assado para chamar a atenção de forma negativa, ou faz-se uma maquiagem sensual demais. A intenção nestes casos (e em tantos outros) não é o cuidado consigo, mas ser o centro das atenções. Dependendo das circunstâncias, além da vaidade, podemos cometer outros pecados, como o da luxúria, por exemplo.
O que devemos ter em mente é que tudo o que fazemos reflete em nosso espírito, e consequentemente, em nosso caminho para a perfeição, a salvação. Se nos preocupamos demasiadamente com nosso corpo e esquecermos nosso espírito, logo, a passos largos, distanciaremos nosso espírito de Deus. Ao contrário, se cuidarmos de nosso corpo tanto quanto cuidamos do nosso espírito, então nos aproximaremos de Deus. E como fazer isso? Usando a moral, o bom senso e os bons costumes, até mesmo para não cairmos em um outro extremo, que é o puritanismo. Há grupos, por exemplo, que ensinam que as mulheres só devem usar saias, cabelos longos e, em alguns casos, não devem se depilar de maneira alguma. Isso é um extremismo maléfico à alma. Deus nos dotou de razão para compreendermos que há roupas apropriadas para cada ocasião - e que em todas elas a modéstia é super bem vinda -; que os cuidados com a saúde são importantes; que a beleza interior é o que deve refletir a exterior, e não o contrário; e, acima de tudo: que tudo o que fizermos seja para agradar a Deus.
Claro que este tema é muitíssimo extenso. Haveria outras coisas a comentar, como o âmago, o orgulho e tantas outras coisas que envolvem a vaidade. Mas hoje me aterei apenas a isso. Espero que tenha servido para nossa reflexão de fim de semana.
Cuidemos de nosso corpo na mesma proporção em que cuidamos da nossa salvação. Se assim o fizermos, não seremos vaidosos, mas sim, zeladores do templo em que habita Deus.
Deus os abençoe.
Virgem Puríssima, ora pro nobis!