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02/09/2011

Os dias em que Deus parecia existir

Texto Retirado do Site http://www.deuslovult.org/

Poucas coisas me foram tão prazerosas nos últimos dias quanto a leitura deste texto [La fiesta y la cruzada] do Vargas Llosa sobre a Jornada Mundial da Juventude. Para os que tiverem dificuldades com o espanhol, há alguns trechos traduzidos aqui. Não se trata de qualquer articulista. É um Nobel de Literatura e um agnóstico confesso; no entanto, é capaz de escapar à mediocridade intelectual dos não-crentes e reconhecer a beleza do recente encontro católico na capital da Espanha. Ainda que sob uma ótica materialista e incrédula, consegue descortinar um pouco do transcendente.

Afinal, é capaz de reconhecer a beleza destes dias “em que Deus parecia existir e o catolicismo ser a religião única e verdadeira”! E eu, católico, cá de volta ao outro lado do mundo, só posso me alegrar com esta percepção do idoso incrédulo. E me regozijar com uma reconfortante sensação de dever cumprido: na JMJ, nós mostramos que Deus existe e que o Catolicismo é a única Religião verdadeira. E o fizemos de uma maneira tão bem-feita que até mesmo os incrédulos tremeram, e a sua anti-fé foi abalada.

Eu estive em Madrid, e das coisas que fala o Vargas Llosa posso dar testemunho. Definitivamente, nós não éramos turistas levianos em férias de verão; como comentei em outro lugar, nós teríamos coisas muito mais interessantes para fazer se o fôssemos. Enfrentar as intempéries da natureza e as limitações da condição humana – o sol, a chuva, a sede, o calor, o frio, o desconforto, as multidões, o cansaço, et cetera – não é propriamente o que se pode chamar de uma tentadora programação de férias. Mas nós o fizemos – e, como reconhece o articulista agnóstico, “sem acidentes nem maiores problemas”. Nós o fizemos com um sorriso na face, e com um sincero amor a Deus e à Igreja no coração.

Delegação recifense em Madrid! Humberto Carneiro, Claudemir Júnior e Jorge Ferraz

Sorriso na face e amor à Igreja no coração! A alegria e a Fé. A felicidade e a luta. A festa e a cruzada. O Vargas Llosa entendeu perfeitamente aquilo que nós fomos fazer em Madrid. Eu nunca me esqueço do final do “Ortodoxia” do Chesterton, onde o britânico confessa achar que houve alguma coisa que o Deus Altíssimo meio que “escondeu” do mundo quando por aqui esteve, alguma coisa que era grande demais para que Ele mostrasse aos homens. E, na opinião de Chesterton, esta coisa era a Sua alegria. A alegria, que é a pequena publicidade do pagão e o gigantesco segredo do cristão! A alegria cristã revelada em Madrid nos sorrisos dos peregrinos. Na festa que o articulista peruano percebeu.

Não se trata de uma alegria vazia ou superficial – de forma alguma! Trata-se de um contentamento interior que não se abala com as adversidades, de um júbilo que não foge à luta. Não é meramente uma festa, é também uma cruzada. Como eu tive a chance de dizer a Zenit, nós fomos a Madrid para dar «um grande testemunho público de fé diante de uma Europa laicista». Para fazê-lo, era sem dúvidas necessário juntar muitas centenas de milhares de pessoas (de todos os países do globo) ao redor de um homem de branco. Vivemos em uma era em que uma imagem vale mais do que mil palavras; e o quadro pintado em Madrid com cores jovens dos cinco continentes é sem dúvidas mais eloqüente do que quaisquer artigos religiosos que se poderiam escrever. Ter estado na última Jornada Mundial da Juventude foi mais profícuo do que qualquer outra coisa que eu poderia ter ficado fazendo no Brasil.

E o nosso recado foi passado e foi entendido. A Fé não pode ser confinada às esferas do subjetivo e do privado. Ao contrário, a Fé é uma força motriz necessária à construção e à manutenção de qualquer sociedade que se possa pretender minimamente civilizada. A citação das seguintes linhas do La fiesta y la cruzada é um pouco longa, mas eu provavelmente não conseguiria escrever melhor:

Durante muito tempo se acreditou que, com o avanço do conhecimento e da cultura democrática, a religião – esta forma elevada de superstição – iria se desfazendo, e que a ciência e a cultura a substituiriam de longe. Agora sabemos que esta era outra superstição, que a realidade fez em pedaços. E sabemos, também, que aquela função atribuída à cultura pelos livre-pensadores do século XIX (com tanta generosidade quanto ingenuidade), esta é incapaz de cumpri-la, sobretudo agora. [...] A cultura não pôde substituir a religião e nem poderá fazê-lo, salvo para pequenas minorias marginais ao grande público. A maioria dos seres humanos somente encontra aquelas respostas (ou, pelo menos, a sensação de que existe uma ordem superior da qual toma parte e que dá sentido e sossego à sua existência) através de uma transcendência que nem a filosofia, nem a literatura, nem a ciência conseguiram justificar racionalmente. E por mais que tantos brilhantíssimos intelectuais tratem de nos convencer que o ateísmo é a única conseqüência lógica e racional do conhecimento e das experiências acumulados ao longo da história da civilização, a idéia da extinção definitiva [da religião] continua sendo intolerável para o ser humano comum e corrente, que continuará encontrando na fé aquela esperança de uma sobrevivência além da morte à qual nunca pôde renunciar. Enquanto não tome o poder político e este saiba preservar sua independência e neutralidade frente a ela, a religião não apenas é lícita como também indispensável em uma sociedade democrática.

Trata-se de um agnóstico rendendo-se à força do testemunho católico, ainda que para fins pragmáticos e com certos preconceitos errôneos quanto às relações entre Igreja e Estado – mas, de qualquer forma, já infinitamente melhor do que os discursos cheios de ódio que nós nos cansamos de encontrar por aí! Porque, até mesmo para o renomado escritor incrédulo, naqueles dias de alegria e de luta Deus parecia existir e a Igreja parecia ser a única Religião Verdadeira. E esta impressão – capaz de romper as barreiras do ceticismo – só foi possível graças à generosidade de milhões de católicos que contribuíram para a grande festa madrileña, para a monumental cruzada espanhola, para a extraordinária jornada católica da qual tomamos parte a fim de mostrar Deus a um mundo sem fé. E, naquela multidão de jovens unidos em uma mesma Fé em torno de um mesmo Chefe, até mesmo os incrédulos puderam vislumbrar a existência do Deus Altíssimo e da Única Igreja Verdadeira. Diante da JMJ, até mesmo os que não têm fé puderam experimentar um desejo – por fugaz que fosse! – de caminhar de mãos dadas com o Vigário de Cristo rumo ao Céu.


Afinal, o que querem aqueles que hostilizam o Papa em suas viagens pelo mundo?


jornal Il Foglio

Como na Inglaterra e na Escócia durante a viagem de um ano atrás. Como naEspanha há poucas semanas. Também na Alemanha a acolhida que uma parte do país pretende reservar a Bento XVI, do dia 22 a 25 de setembro próximos, não é das melhores.

Há protestos de grupos de associações organizadas (muitos deles aderentes do movimento gay alemão) que, no dia 22 de setembro, no Portão de Brandenburgo, quando o pontífice fizer um discurso aos parlamentares, elas se concretizarão em um desfile liderado por um falso papamóvel com um “antipapa”. A acusação, no fundo, é a de sempre: Ratzinger lidera uma Igreja obscurantista e antimoderna.

E depois há os protestos provindos de dentro da Igreja Católica: um grupo de católicos alemães liderado pelos sacerdotes Norbert Reicherts e Christoph Schmidt assumiram as reivindicações dos 150 padres Austríacos que antes do verão [europeu] pediram a Bento XVI a abolição do celibato sacerdotal, a ordenação feminina, a readmissão à Eucaristia dos divorciados de segunda união e o retorno à Igreja dos sacerdotes que se casaram e tiveram filhos.

Sandro magister, vaticanista, parte da dissidência interna da Igreja para dizer que “é uma fermentação típica do mundo de língua alemã, uma fermentação que se apresenta com uma característica específica: a antirromanidade”. Ele diz ao Il Foglio: “NaAlemanha, são fortes as pressões protestantes que pedem reformas e inovações à Igreja Católica. A essas demandas, parte do mundo católico reage repropondo-as, porque as julga necessárias para se manter no ritmo da modernidade. Também é um modo pelo qual parte do mundo católico reivindica a sua autonomia de Roma, do papa, do centro da catolicidade. São reformas cujo conteúdo é conhecido há muito tempo, mas que retornam ciclicamente. Acredito que, pra avaliá-las do modo mais justo, porém, é preciso uma leitura mais distanciada”.

Qual? “Parece-me evidente que aqueles que pedem inovações no plano do celibato, do sacerdócio, da moral sexual etc., não pedem à Igreja nada mais do que um sinal, um milagre, um pouco como os fariseus que pediram a Jesus um sinal do céu para pô-lo à prova. Jesus respondeu dando-lhes o que pediam, mas respondeu voltando ao essencial, isto é, convidando a todos a olhar para ele.

Lembrando-lhes que ele era a resposta que buscavam. O papa faz o mesmo. Não reage a essas exigências oferecendo gestos taumatúrgicos, que depois não o são, mas simplesmente convida a todos a olhar para Deus, para o Mistério, para aquilo que é essencial na vida dos fiéis. Além disso, é sabido que a verdadeira reforma da Igreja, para Ratzinger, não parte de uma mudança das estruturas ou das normas, mas sim, sobretudo, de uma conversão do coração, de um convite a todos os fiéis a olharem para Deus.

Na Itália, nestes dias, muitos também pedem um sinal à Igreja: renúncias aos benefícios do 8 por mil [porcentagem da arrecadação total do imposto de renda italiano que é repassada às diversas confissões religiosas]. Esse pedido, no fundo, também espelha aquele dos fariseus: dá-nos um sinal, faça um milagre”.

O leitmotiv das viagens de Bento XVI parece ser o dos protestos preventivos. Grupos hostis, alimentados por uma eficaz campanha midiática, prometem fogo e enxofre assim que o papa puser seus pés em seu país.

“Sim – diz Magister –, mas esses protestos, depois, se derretem como neve no sol. É um pouco como o Irene. Devia ser um furacão e se tornou uma simples tempestade ou quase isso. Assim são os protestos contra o papa. Antes que Ratzinger chegue, são furacões chegadas. Uma vez que Ratzinger aterriza e começa a sua viagem, depois dos seus gestos, dos seus discursos, não há mais quase nada.Na Inglaterra e na Escócia, muitos políticos que anteriormente haviam atacado Bento XVI também tiveram que declarar publicamente que estavam errados. Assim também na Espanha. Até mesmo alguns colegas de Zapatero acusaram o primeiro-ministro socialista por ter ido a Canossa, como se o seu encontro com o papa fosse uma ‘desistência papista’. Na Espanha, foi dada uma grande ênfase a essas declarações e também aos movimentos de protesto dos indignados nas praças. Mas a viagem em si, os milhares de jovens presentes e as palavras do papa afundaram qualquer polêmica, de fato”.

Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/