Na manhã deste 27
de junho durante a habitual Audiência Geral das quartas-feiras na Praça de São
Pedro, o Papa Bento XVI lamentou que algumas vezes o homem acredite ter o poder
de Deus, mas recordou que a sua plena realização está em fazer a vontade do Pai
servindo com caridade a outros.
O Santo Padre
sublinhou que freqüentemente a lógica humana "A lógica humana, em vez,
busca muitas vezes a autorrealização no poder, no domínio, nos meios potentes.
O homem continua querendo construir com as próprias forças a torre de Babel
para chegar à mesma altura de Deus, para ser como Deus. A Encarnação e a Cruz
nos recordam que a plena realização está no conformar a própria vontade humana
àquela do Pai, no esvaziar-se do próprio egoísmo para encher-se do amor e da caridade
de Deus e, assim, tornar-se realmente capaz de amar os outros".
"Adão queria
imitar a Deus, isto em si não é ruim, mas errou na ideia de Deus. Deus não é
alguém que só quer grandeza. Deus é amor que se doa já na Trindade e depois na
criação. E imitar a Deus quer dizer sair de si mesmo e doar-se no amor",
adicionou.
Neste sentido,
explicou que na oração, na relação com Deus, devemos abrir "a mente, o
coração e a vontade à ação do Espírito Santo, para entrar nesta mesma dinâmica
de vida".
"Nossa oração
é feita, como vimos na quarta-feira passada, de silêncio e palavra, de canto e
de gestos que envolvem a pessoa inteira: da boca à mente, do coração ao corpo
inteiro. É uma característica que encontramos na oração hebraica, especialmente
nos Salmos", disse o Santo Padre ao referir-se a "um dos cantos ou
hinos mais antigos da tradição cristã, que São Paulo nos apresenta como aquele
que é, de certo modo, o seu testamento espiritual: A Carta aos
Filipenses".
Bento XVI
recordou que São Paulo escreve esta carta enquanto está no cárcere condenado à
morte, e "expressa sua alegria de ser discípulo de Cristo, de poder ir ao
Seu encontro, até o ponto de ver a morte não como uma perda, mas como
ganho".
São Paulo,
através de sua carta convida à alegria, "uma característica fundamental
–recordou-, de nosso ser cristãos e de nossa orar".
"São Paulo
escreve: “alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos (Fl 4,4).
Mas como é
possível se alegrar diante de uma condenação à morte então iminente? De onde,
ou melhor, de quem São Paulo atrai a serenidade, a força e a coragem para ir ao
encontro do martírio e do derramamento de sangue?”, questionou o Papa.
“Encontramos a
resposta no centro da Carta aos Filipenses, naquilo que a tradição cristã
denomina “carmen Christo”, o canto para Cristo, ou mais comumente chamado “hino
cristológico”; um canto no qual toda a atenção está centrada sobre os
“sentimentos” de Cristo Jesus".
Bento XVI disse
que “estes sentimentos são apresentados nos versículos sucessivos: o amor, a
generosidade, a humildade, a obediência a Deus, o dom de si. Trata-se não só e
não simplesmente de seguir o exemplo de Jesus, como uma coisa moral, mas de
envolver toda a existência no seu modo de pensar e agir".
Neste contexto, o
Papa recordou aos fiéis que a oração " deve conduzir a um conhecimento e a
uma união no amor sempre mais profundo com o Senhor, para poder pensar, agir e
amar como Ele, Nele e por Ele".
"Exercer
isso, aprender os sentimentos de Jesus, é o caminho da vida cristã",
sublinhou.
Além disso, Bento
XVI indicou que este canto condensa "todo o itinerário divino e humano do
Filho de Deus e engloba toda a história humana: do ser na condição de Deus, à
encarnação, à morte de cruz e à exaltação na glória do Pai está implícito também
no comportamento de Adão, do homem no início.".
"Jesus,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não vive o seu “ser como Deus” para
triunfar ou para impor sua supremacia, não o considera um poder, um privilégio
ou um tesouro invejável”.
“Na verdade,
“despiu-se”, esvaziou-se de si assumindo, como diz o texto grego, a “morphe
doulos”, a “forma de escravo”, a realidade humana marcada pelo sofrimento, pela
pobreza, pela morte, assimilou-se plenamente aos homens, exceto no pecado,
agindo assim como verdadeiro servo a serviço dos outros".
“Neste sentido,
Eusébio de Cesaréia, no século IV, afirma: “Ele tomou sobre si as fadigas
daqueles que sofrem. Fez suas as nossas doenças humanas. Sofreu e passou por
tribulações por nossa causa: isso em conformidade com seu grande amor pela
humanidade”.
“São Paulo
-continua o Papa- segue traçando o quadro “histórico” no qual se realizou esta
inclinação de Jesus: “humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte
(Fl 2,8). O Filho de Deus se tornou verdadeiro homem e cumpriu um caminho na
completa obediência e fidelidade à vontade do Pai até o sacrifício supremo da
própria vida. Ainda mais, o Apóstolo especifica “até a morte, e uma morte de
cruz””.
"Sobre a
Cruz, Jesus Cristo chegou ao máximo grau da humilhação, porque a crucificação
era a pena reservada aos escravos e não às pessoas livres", recordou.
"Na Cruz de
Cristo, o homem é redimido e a experiência de Adão é remediada: Adão, criado a
imagem e semelhança de Deus, afirma ser como Deus com suas próprias forças,
coloca-se no lugar de Deus e assim perde sua dignidade original que lhe foi
dada”.
“Jesus, em vez,
estava “na condição de Deus”, mas inclinou-se, colocou-se na condição humana,
na total fidelidade ao Pai, para redimir o Adão que está em nós e devolver ao
homem a dignidade que havia perdido.", afirmou.
Deste modo, o
Santo Padre reiterou seu chamado a imitar Jesus, que voltou "a dar à
natureza humana através de sua humanidade e obediência, o que se perdeu pela
desobediência de Adão".
“Como São
Francisco diante do crucifixo, digamos também nós: Grande e magnífico Deus,
iluminai o meu espírito e dissipai as trevas de minha alma; dai-me uma fé
íntegra, uma esperança firme e uma caridade perfeita, para poder agir sempre
segundo os vossos ensinamentos e de acordo com a vossa santíssima vontade.
Amém!”, concluiu.
Fonte: ACI Digital